sexta-feira, 30 de julho de 2010

Depois do presente: Narciso

Um Ser me deu essa semana o trecho abaixo (de um conto do CFA). Não contive meu ego vaidoso e postei aqui:

B&W 024

"Aquele menino trazia na testa a marca inconfundível: pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas por mergulhar. Essas são as escolhidas, as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá. Não sei se você sabe que muitas pessoas trazem a mesma marca daquele menino. Algumas, a maioria delas, passam a vida inteira sem saber disso, outras descobrem cedo, outras tarde, algumas tarde demais, algumas nunca. Sei que se o menino naõ tivesse ido lá não teria descoberto, seria no máximo mais um desses pescadores que olham o mar com olhar profundo, você deve ter notado que há os que olham o mar com olhar profundo e os que olham o mar com o olhar torvo. Não só o mar. Os que trazem a marca, mesmo que não saibam dela, esses olham as coisas com olhar de sangue. Os que sabem da marca ganham uma luz estranha e uma lentidão e um jeito de quem sabe todas as coisas. Os outros todos olham as coisas com um olhar torvo. Os outros todos são escuros, estúpidos, podres. Os outros não sabem. Quando aquele menino foi lá pela primeira vez tinha apenas um olhar de sangue - mas quando foi pela última vez seu olhar já era de luz, era todo lentidão, complacência, compreensão, todo ele amor e sol."

!Gracias!, Ser.

P.s.: Post mais narciso, ever!

Postando de São Luís. Feliz.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

(Delacroix - A Mortally Wounded Brigand Queenches His Thirst, 1825)


"It doesn't matter, it's all about thirst." (CFA)


E mais que qualquer sede, há de ser insaciável a sede de ter sede.

P.s.: Aceito reproduções do quadro de presente. =)

quinta-feira, 17 de junho de 2010



Que o limite do corpo seja a alma, que é ilimitada.

(Reflexão pós-FILO)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mais um carnaval



Nesses tempos todo mundo será patriota: vestiremos a camisa, estenderemos bandeiras, cantaremos o hino... Passados algumas semanas e jogos tudo volta ao normal e a gente só vai ter orgulho de ser brasileiro na próxima Copa.


- Patriotas mesmo são os gaúchos, que têm orgulho de seus mártires e de sua história 365 dias ao ano. E cantam seu hino com mais fevor do que o resto dos brasileiros cantam o hino nacional.

sábado, 12 de junho de 2010

No expressionismo, um realismo

(Esqueletos disputando um arenque, 1981 - James Ensor)


Política é humanidade. É gente de verdade. Não se trata de utopia, mas de cotidiano.


Heron de Carvalho

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Eu, você e o tempo

"Tempo tempo tempo tempovento
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definitivo"

(Oração ao Tempo- Caetano Veloso)

--

Eu sou nós.

Sou poeira.

Tempo é vento.

Passa por aqui e leva pr’aí.

Ao tempo eu deixo meu amor, meu sorriso, meu gingado.

Ao tempo eu deixo meu olhar, meu caminhar, meus pensamentos.

Ao tempo eu deixo os meus atos de des-ato e deixo meu amor.

Deixo prá que ele leve pelo mundo, prá que ele me espalhe por aí.

E assim vou tocando faces, corpos, vidas, gentes, frutos de futuro.

Eu sou nós.

Sou poeira.

Tempo é vento.

Passa por aqui e leva pr’aí.

Ao tempo eu peço que traga amor.

Ao tempo eu peço que traga frutos do que levou.

Ao tempo eu peço que leve frutos do que deixou.

Ao tempo eu peço que mude gentes, mentes e dementes.

Peço que espalhe por aí os outros que há em mim e ti.

Peço que não carregue prá cá malgrados, os verdadeiros pecados.

Passa por aqui e leva pr'aí.

Tempo é vento.

Sou poeira.

Eu sou nós.

Heron de Carvalho.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Por homens e paredes: o conhecimento que queremos

Os homens falam:

“Vocês fazem parte da elite intelectual desse país.”

(Em uma palestra na XLVIII Semana Jurídica da UEL)

E as paredes também:

“Para que(m) serve o teu conhecimento?”

(Restaurante Universitário – Universidade Federal de Santa Maria)

conhecimento

Formamos a elite do intelecto (gargalhada sarcástica). Como assim? Qual o sentido do vocábulo elite nessa frase? Por que se for para entendê-lo como uma qualificação de um grupo seleto de pessoas que pressupõem superioridade sobre outras e fazem disso um artifício de poder, exploração e alienação, desculpe-me, prefiro ser um proletário, um ser comum, à base da pirâmide social. Recuso-me a aceitar esse estereótipo de cunho vaidoso e arrogante, desde já. Porém essa é a menor das inquietações que tal fala me causa. Mais curioso é o que entender por intelectual e se essa frase do palestrante não intenta a formação de um conhecimento elitista(!). Por que o sentido que dou a intelectual é mais que o domínio de certos conhecimentos obtidos em manuais-mão-na-roda, é mais que códigos e leis e ordens ou literaturas-de-vampiros e ensinamentos acadêmicos sem nenhum senso crítico.

Onde tu colocas o sentido de todos esses ensinamentos acadêmicos? E o outro que co-existe contigo, tu tens consciência do teu papel na vida dele? E o espelho? Teu conhecimento visa ao belo? Tudo bem, e quando tu te deparas com o não-belo, o que tu fazes? Simplesmente desvias o olhar, por não suportares enfrentar a realidade? Ah, tudo bem, teu conhecimento te diz que tu não podes fazer nada para melhorar o não-belo. É simples, continua desviando o olhar e fingindo que não existe nada além daquilo que te causa prazer e bem estar e assim tu manténs o custoso status quo.

Não me fiz claro o suficiente ainda? Ok, o que eu falo aqui é sobre Ser Humano, meu bem. É sobre cultuar um conhecimento capaz de se sensibilizar com a dor e a condição de incapacidade do outro. Ah, desculpe-me, te ensinaram a ser racional. Ok, se assim preferes, usa a tua racionalidade e guia teus atos segundo uma moral mais humana, menos instrumental e mecânica. Usa o teu conhecimento para se fazer Humano, por que apenas quando tu possibilitares a outros capacidades para serem Humanos é que serás de todo digno de assim ser chamado. E quando te perguntarem para que(m) serve o teu conhecimento, tu poderás dizer que serve ao Ser Humano.

Ao som de "Somos quem podem ser" de Engenheiros do Hawaii

"[...] um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão."